vacinação tripla
RS registra queda das taxas de cobertura vacinal da tríplice viral
A queda da vacinação contra sarampo, caxumba e rubéola (Tríplice Viral D1) no Brasil preocupa a comunidade médica no Brasil. Conforme levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), que analisou dados do Programa Nacional de Imunizações (PNI), em três anos a cobertura vacinal caiu de 93,1%, em 2019, para 71,49%, em 2021, o que significa que três em cada dez crianças no país deixaram de tomar doses de imunizantes necessários à proteção contra doenças fatais. No Rio Grande do Sul e em Porto Alegre, o cenário se repete com a diminuição da taxa vacinal entre as crianças.
Entre as causas apontadas por especialistas para a diminuição da vacinação estão a pandemia do novo coronavírus, a interrupção de serviços essenciais de saúde e o surgimento de movimentos antivacinas no país. Por conta desse cenário, o Unicef alerta para a diminuição da vacinação da tríplice viral e da cobertura da vacinação contra poliomielite, que registrou queda de 84,2%, em 2019, para 67,7%, em 2021. Os números da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) revelam que o fenômeno se repete em Porto Alegre, com inúmeras crianças sem acesso à imunização de rotina contra outras doenças.
Diretor adjunto da Vigilância em Saúde da SMS, Benjamin Roitman explica que houve queda expressiva de 2019 a 2021. "A tríplice viral estava com 80% (de cobertura), em 2019, e baixou para 73%, em 2020. Agora, em 2021, está em 55%. Caiu muito. A gente está com uma cobertura vacinal muito baixa", alerta. Roitman destaca ainda o declínio da cobertura vacinal para outras doenças. E cita a vacina pentavalente, que previne contra difteria, tétano, coqueluche, meningite por Hib (bactéria Haemophilus influenzae tipo b) e hepatite B. "Estava em 80%, em 2019, e agora caiu para 58% em 2021", compara.
A imunização contra a poliomelite também apresentou redução nos últimos três anos. "Depois de um ano (crianças a partir dessa idade), ela é feita com gotinha. Então é fácil de aplicar, a gente tinha altos índices de cobertura e agora não chega a 80%. Estava em 79%, em 2020, e 48% em 2021. Caiu muito", observa. Roitman avalia que houve chamamento para fazer as vacinas, mas ressalta o surgimento de movimentos antivacinas no país. "Com a questão das vacinas para Covid-19 em crianças, que tem tanta polêmica, esses movimentos ganharam força. Era uma coisa praticamente inexistente no Brasil", sustenta.
Conforme Roitman, a partir da pandemia algumas pessoas começaram a questionar a vacina para Covid-19 e, por extensão, as outras vacinas já tradicionais. Na avaliação de Roiman, a redução da circulação de pessoas durante a pandemia - com receio de contrair a doença - também contribuiu para o declínio da cobertura vacinal. "O movimento antivacinas influenciou bastante. E o fato de a gente ter ficado dois anos sob pandemia, com aquela coisa de circular o mínimo possível, afastou um pouco as crianças, as mães, de levarem seus filhos para fazer a vacina", afirma.
Para voltar a atingir elevados índices de vacinação, Roitman afirma que é preciso reforçar as campanhas de vacinação e avançar em ações de busca ativa para impedir a reentrada de doenças que já estavam erradicadas. "Um exemplo bem prático é o sarampo. O Brasil tinha o certificado de erradicação do sarampo. Em 2017 começou a aparecer casos novamente e a gente perdeu o certificado", afirma, destacando casos em São Paulo e Porto Alegre - onde houve um surto da doença. Um alerta do Ministério da Saúde para poliomielite também acendeu o alerta na comunidade médica.
Conforme Roitman, Desde os anos 1980 não existe poliomelite nas Américas. "Não temos casos ainda, mas já tem um alerta por causa da baixa cobertura vacinal, da possibilidade de reentrada da poliomielite, uma doença que a gente não tem há 40 anos", frisa. Para o infectologista Paulo Ernesto Gewehr Filho, do Hospital Moinhos de Vento, as vacinas no Brasil e em outros lugares do mundo "sofrem do seu próprio sucesso". Ele explica que as pessoas, num dado momento, vivenciam as doenças e têm uma percepção de risco muito grande, porque "sabem que a doença está ali". E por isso procuram a vacina para se proteger.
"Depois de um tempo onde a doença não mais circula, por conta da proteção das vacinas, as pessoas desacostumam com aquelas doenças. Então a percepção de risco delas diminui, fazendo com que as pessoas erroneamente pensem que a doença não existe mais ou que não circula mais ali e não pode voltar a circular. E aí as pessoas acabam não procurando as vacinas porque acham que não são mais necessárias, quando é extamente o contrári. É graças à vacinação, à cobertura vacinal de todos é que as doenças não circulam mais e não têm aquele impacto tão grande", afirma.
De acordo com o infectologista, a redução da cobertura vacinal gera preocupação e é motivada por alguns fatores, como os movimentos antivacina, o período de quarentena durante a pandemia e as fake news. "Com o início das vacinas contra a Covid-19, iniciamos uma fase totalmente diferente em relação ao antivacinismo e das fake news que falam sobre vários temas em relação à Covid-19, mas também sobre vacinas. E isso abalou a confiança na população em relação às vacinas não só contra a covid-19, mas contra as outras", avalia.
Para mudar esse quadro de declínio da cobertura vacinal, o infectologista sugere orientar a população, reforçar as campanhas de vacinação e o acesso da população aos imunizantes, além de combater as fake news com informações técnicas baseadas em estudos científicos. "No Brasil, a gente tem um portfólio de vacinas na rede pública de forma gratuita muito grande, um dos melhores que a gente tem disponíveis no mundo. Só que a gente tem que melhorar é o acesso a esse portfólio de vacina", destaca.
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