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João Eichbaum
Ação entre amigos e inimigos
Alguém, alguma vez, em algum lugar desse imenso Brasil, achando que a palavra "rifa" soava mal, tinha cheiro de más intenções, de contravenção contra a ordem econômica, ou coisa parecida, resolveu inventar um eufemismo para o dito vocábulo. Desde então, apareceu a "ação entre amigos" para denominar a prática de embolsar dinheiro à custa de quem acredita na sorte.
Agora, para perplexidade de quem tem que repartir com a Fazenda Nacional o que consegue com o suor de seu rosto, apareceu a "ação entre amigos e inimigos", sob o nome pomposo de "PEC da Transição".
Para quem não sabe: essa tal de PEC da Transição, outra coisa não é senão uma reforma constitucional nas coxas, com a finalidade de distribuir uma grana sem tamanho para ser queimada pelo Lula e pelos parlamentares. À primeira hora, o chamado "centrão", um grupo de parlamentares que tem peso muito grande na aprovação ou desaprovação de projetos, se apresentou como opositor ao governo Lula, proclamando, de boca cheia, que não aprovaria a tal de PEC.
Ao mesmo tempo foi despertada de longo sono uma ação promovida por opositores ao governo Bolsonaro, pedindo a decretação de nulidade do "orçamento secreto", que servia de base para essa PEC, que acabou conhecida, após a eleição do Lula, como "PEC da transição". Pois essa bela adormecida, despertou com um beijo, ops, com uma decisão da presidente do STF, Rosa Weber, movimentando o processo.
Muita coincidência, né? Um processo movido para barrar as intenções do Bolsonaro, de repente é despertado após a eleição do Lula...
Mas, coincidência ou não, o certo é que o Supremo Tribunal Federal botou a mão no impasse que ameaçava as promessas eleitorais do Lula, que seriam bancadas com o tal de orçamento secreto. E aí, dois votos, um de Gilmar Mendes e outro de Ricardo Lewandowsky, vieram em socorro do Lula: a verba destinada ao "bolsa-família", que deixou de ser "bolsa-família", para ser "auxílio-Brasil" está fora das más intenções do "orçamento secreto". E o tal de "auxílio" também socorre a quem bota filhos no mundo, sem um pingo de responsabilidade: paga cento e cinquenta reais por cada trepada que resultar em filho.
Então, por cargas d'água muito conhecidas, o "centrão" calou a boca, já que, segundo o STF, o projeto de reforma constitucional foi considerado apenas "meio inconstitucional", e a tal de PEC foi aprovada, com uma dinheirama um pouco mais curta, mas suficiente para agradar a amigos e inimigos.
Assim é praticada a "política" no Brasil, com "ações entre amigos e inimigos". Para tirar dinheiro do contribuinte, qualquer coisa serve, desde que agrade aos políticos e aos beneficiados por eles, com fatias de poder. A ambição está acima de tudo. A Constituição Federal serve como sacola de mágico para prestidigitadores, que se intitulam "intérpretes": extraem dela cobras e lagartos. Disso se aproveitam políticos, para tirar dinheiro de quem trabalha e paga imposto, em benefício de quem não trabalha, quer porque tenha muito poder, quer porque tenha muita preguiça.
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