SÃO GABRIEL WEATHER

João Eichbaum

Qatar

Olha só, que contradição: um deserto árido e um longo litoral, com praias e dunas no Golfo Pérsico. Pois assim é o Qatar, que por muito tempo serviu como paisagem para imaginação de escritores sobre fadas e princesas de mil e uma noites.

O Qatar era um pequeno emirado, que se transformou num dos países mais ricos do mundo, quando descobriu que estava montado sobre um campo imenso de gás natural, além da fabulosa reserva de petróleo. O país não é senão uma propriedade família do emir Tamim Bin Hammad Bin Khalifa Al Thani, a terceira família mais rica do mundo. Sua fortuna ronda a casa dos U$ 335 milhões. Seus investimentos se alastram mundo afora, como o arranha-céu Shard, de Londres, que é a maior edificação mundial, a gigantesca loja de departamentos Harrods, e o Empire State Building, de Nova Iorque. Diz-se também que banco inglês Barklays, a companhia aérea British Airways e a montadora Volkswagen contam com investimentos da família Al Thani.

A fortuna do monarca mais jovem do mundo, o sheik, é um patrimônio orçado em US$ 2 bilhões. Só mesmo com tamanha grana, o sujeito poderá ter, como ele, três lindíssimas esposas e um clube de futebol na França, o Paris Saint Germain. Quer dizer, o sheik sabe como e com quem é bom se divertir. E por isso resolveu incluir, entre seus divertimentos, a Copa do Mundo deste ano.

Corre nas redes sociais um artigo assinado por Jon Kokura, onde o autor afirma que a família Al Thani comprou a sede da Copa do mundo de 2022, pagando um "milhão de dólares a certos delegados da Concaf" da América Central, e "um milhão e meio a dirigentes da Conmebol, da América do Sul.

Não só Jon Kokura como outras empresas do ramo da comunicação informam que o Qatar importou mão de obra para armar a infraestrutura que um evento mundial desse porte exige: estádios, novos hotéis, ferrovia, rodovia, aeroportos, etc.

Até aí, nada demais. O pior foi, segundo o noticiário, o que aconteceu para com os trabalhadores importados: mais de seis mil e quinhentos morreram, em decorrência do trabalho escravo a que eram submetidos. Foi, ao que tudo indica, a repetição da história bíblica, segundo a qual os judeus eram escravizados no Egito, sendo dessa escravidão resgatados por Moisés, que até o Mar Vermelho dividiu, para dar sucesso à empreitada. Mas, no caso da preparação de Qatar, para o povo vibrar com a Copa do Mundo, deus nenhum socorreu àquela pobre gente.

Houve indignação no mundo, sim, mas por outra causa: a de que o Qatar não respeita os "direitos humanos" dos homossexuais. Lá não são permitidos os pendões com as cores do arcoíris, usados pelos bípedes falantes que preferem outro tipo de sexualidade. Isso exaltou muita gente, incluindo manifestações de jogadores participantes do evento. A seleção da Alemanha, por exemplo, fechou a boca, em sinal de protesto.

Mas, ninguém se lembrou dos pobres que morreram, para que o mundo pudesse vibrar, gritando "gooool".

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