GESTÃO DE CRISE GARANTE OFERTA DE TOUROS E MATRIZES NA PRIMAVERA.

A decisão de alterar o período da estação de monta para agosto, setembro e outubro ocorreu há aproximadamente três anos na Estância Luz de São João, de São Gabriel. O proprietário Celso Jaloto tomou a decisão para ampliar a área de soja e obter melhor pastagem no inverno.
O planejamento, que ocorreu sem contratempos e percalços até o outono do ano passado, permitia-lhe ofertar forragem de qualidade aos touros e matrizes Braford a partir de 1° de junho. Porém, este ano foi diferente. Com atraso na implementação das lavouras de soja da última safra, alguns ajustes no sistema de integração lavoura-pecuária (ILP) foram necessários para que todo o investimento no cronograma de reprodução, reposição e comercialização do plantel não fosse perdido.
Sinais anteriores à catástrofe acenderam alerta
Ainda era abril quando Jaloto percebeu a umidade do solo e a água empoçada alertavam para tempos turvos logo adiante. O solo estava encharcado e as plantas já sofriam com a falta de luminosidade. Algumas áreas tiveram até de ser replantadas, estendendo o ciclo da oleaginosa.
O pecuarista não precisou ver mais de um trator impossibilitado de trabalhar a campo para decidir antecipar a semeadura das sementes de azevém sobre a soja ainda não colhida. Porém, sem condições de realizar a sobressemeadura por terra, optou pelo ar.
As plantas ainda não tinham amarelado - premissa para implantar o pasto integrado - quando um avião Ipanema sobrevoou as lavouras. Para otimizar a germinação, as áreas de coxilha foram priorizadas e uma nova investida aérea foi realizada. Dessa vez, para distribuir uma forte dosagem de nitrogênio sobre a gramínea que ainda conseguia emergir.
"A pastagem precisa ter uma certa massa foliar e uma altura mínima para absorver o produto. Isso faz com que ela se desenvolva mais rápido e acelera seu crescimento", pontua o criador.
A aeronave despejou em torno de 100 quilos de ureia por hectare. A quantidade foi o que "salvou a lavoura", mas, nesse caso, a de pasto.
Primeiros animais entraram no pasto em junho
A ação foi o que permitiu à Luz de São João entrar com o gado no azevém há aproximadamente três semanas. Os primeiros a se beneficiar foram os touros que vão a leilão no dia 10 de setembro e, até então, estavam em uma área de pastagem perene bastante utilizada no verão, que ainda resistia à geada.
"Essa é uma categoria animal que a gente tem uma preocupação maior, já que engordar as fêmeas é mais fácil", compara o pecuarista.
Do pasto implantado por avião também se beneficiam as terneiras, as novilhas e as vacas com cria ao pé que também serão comercializadas no remate.
A aposta é que o alto dispêndio para driblar a inesperada escassez nutricional seja compensado pelas promissoras expectativas com relação ao mercado de 2025.
"Este ano, está mudando o ciclo da pecuária e se nota abate maior de fêmeas. Teremos reflexo no ano que vem, quando (o preço) vai voltar a valorizar os terneiros, os animais de reposição, os que têm com valor agregado. Quem tiver produzido vai estar com o caixa na mão", projeta.
Rapidez para ampliar o caixa e reduzir a lotação
Diminuir a carga dos animais por hectare foi algo que também fez com que a Luz de São João conseguisse driblar o cenário incerto e adverso após a calamidade. A prática comumente adotada em períodos de frio, quando há queda no percentual proteico da forragem, veio acompanhada de descartes antecipados para dar fôlego ao caixa e diminuir a demanda alimentar dos Braford rústicos.
Na cabeceira da fila estavam as categorias que estavam prontas para a engorda e os terneiros recém-desmamados. "Acabamos tendo uma despesa um pouco maior, tendo em vista adoção de produtos e tecnologia para acelerar pastagem e para melhorar o campo nativo", justifica Jaloto.
Para enfrentar o julho ainda chuvoso e finalizar a preparação da oferta de setembro, a propriedade ainda deve fazer uma suplementação mineral proteico-energética e lançar mão de feno, pré-secado e silagem para garantir a qualidade do gado.
"Há perda intensa de forragem pela ausência de solo, pasto fica baixo, temos que fazer um planejamento estratégico", ressalta o Coronel Jaloto, como é conhecido entre os companheiros de atividade.
A visão vem ao encontro da percepção do coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Júlio Barcellos, para quem o melhor caminho ao criador é, agora, olhar para dentro da porteira.
"O Rio Grande do Sul, tradicionalmente, tem esse problema do excesso de chuva, mas, para que isso seja minimizado, o produtor precisa ter uma reserva natural de comida, porque nessas épocas o alimento para o gado desaparece", evidencia o professor.
Fonte: Correio do Povo
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