12 presos fizeram a 1ª etapa do Enem neste domingo
Através do ENEM prisional, detento cursa Gestão Ambiental na Unipampa
Mais de 54,2 mil candidatos fizeram o Exame Nacional do Ensino Médio para Pessoas Privadas de Liberdade ou sob medida socioeducativa que inclua privação de liberdade (Enem PPL/2021) neste domingo. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Exame, as provas foram divididas em duas etapas. A primeira foi aplicada no domingo (09/01) e a segunda será no dia 16 de janeiro em unidades prisionais e socioeducativas das 27 unidades da federação.
Em São Gabriel, 12 detentos participaram desta primeira etapa. As provas foram realizadas em sala de aula (dentro da penitenciária).
Segundo a Assistente Social Marília Bastos, integrante da equipe técnica do Presídio Estadual de São Gabriel (PESG) que trabalha com a ressocialização de presos, o Enem é uma oportunidade de acesso a educação, importante para auxiliar o reeducando à ressocialização.
O PESG possui em sua equipe técnica, além da assistente social, um psicólogo. Os dois trabalham na tentativa de garantir que as pessoas privadas de liberdade tenham assegurado o direito ao trabalho, educação e qualificação profissional, visando sempre a ressocialização. O ENEM pode ser essa garantia.
Foi através do Exame que o detento SV, de 25 anos, mesmo atrás das grades, conseguiu ter acesso ao ensino superior. SV foi preso e condenado pela Justiça a 13 anos de reclusão depois de se envolver em uma briga com dois "desafetos". Na briga, um homem acabou morrendo.
"No início foi difícil. Sempre fui trabalhador e estava no Exército quando aconteceu o fato. Foi um impacto grande pra mim. Difícil de acreditar. Difícil para me adaptar a diversas situações. Por mais que eu tenha sido condenado, tenho em minha consciência que agi em legítima defesa. Defendi a minha vida. Fui condenado mesmo injustamente! Estou terminando de cumprir minha pena. E, se Deus quiser, dentro de alguns meses estarei perto da minha família", planeja.
A rotina diária dentro do presídio não é muito estimulante, por isso a importância da equipe técnica no trabalho de motivação quando surgem as oportunidades.
"Aqui dentro, é sempre a mesma coisa: acordar, tomar banho, tomar café... ir no pátio se exercitar por duas horas e voltar para a cela para passar o tempo. Alguns leem. Outros bebem chimarrão, limpam as celas, jogam carteado. Quem tem roupa suja, vai lavar e alguns continuam exercitando o corpo e a mente. Não tem muito o que dizer da nossa rotina", ressalta o preso.
O estudo sempre fez parte da rotina de SV. "Nunca parei de estudar. Já havia feito o ENEM e outros cursos quando estava livre. Perdi minha liberdade, mas não perdi meu desejo de conhecimento!"
SV está cursando o 2º Semestre do Curso de Gestão Ambiental na Universidade Federal do Pampa (Unipampa).
RESSOCIALIZAÇÃO
Na visão do preso, o programa de ressocialização tem uma papel importância no processo de readaptação a vida pós prisão.
"Ressocializar é reeducar aquele que, por ter cometido um delito, foi afastado da sociedade. Não posso dizer que seja fácil mantermos a mente sã, aqui dentro. Mas, com força de vontade, diária, conseguimos nos manter firma e forte. A nossa maior força é o apoio da nossa família, que é a nossa maior fortaleza. O apoio moral que damos, um para o outro, aqui dentro, também ajuda muito. Mas o primordial é o respeito que temos entre nós".
COVID-19
A aplicação do Enem PPL também seguiu protocolos de prevenção à covid-19. O uso de máscaras de proteção foi obrigatório e frascos de álcool em gel foram fornecidos pela organização da prova. As unidades prisionais e/ou socioeducativas higienizaram as salas, bem como proporcionaram uma boa circulação de ar, além de possibilitar o distanciamento entre os participantes.
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