SÃO GABRIEL WEATHER

Briane Machado

Efeito Bolha

Há alguns dias, li uma frase da filósofa Hannah Arendt, que diz: "O grande isolamento é cercar-se daqueles que pensam iguais a você.".
No mesmo instante, alguns pensamentos aleatórios vieram à minha cabeça como um tsunami, uma vez que os fatos contemporâneos que vêm sendo traçados e vivenciados pela sociedade nos permitem o uso da expressão "bolhas sociais".
Traçando uma linha do tempo filosófica, partimos do pressuposto da historicidade enraizada, salientando-se o pensamento de Platão em "O Mito da Caverna", o qual já relacionava a alienação e a intolerância praticadas pelo homem, ou seja, dizia de forma a evidencia-las, metaforicamente, que o homem é acorrentado por sua ignorância quando não adquire conhecimento verdadeiro.
Da mesma forma, na Grécia Antiga, Sócrates induzia a sociedade a buscar o conhecimento, na tentativa de expandir os olhares daqueles que precisavam debater a contrariedade, chegando a novas formas de ver o mundo e tudo aquilo que estava em voga.
Não menos importante, o pensamento de Descartes baseava-se no seguinte entendimento: "tudo é sinônimo de dúvida, o único meio que não se encaixa nesse contexto é a própria dúvida".
Partindo do pressuposto de Albert Einstein, é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito enraizado.
E, quando chegamos à contemporaneidade, Zygmunt Bauman nos traz a modernidade líquida, onde precisamos nos ater à (in)tolerância das ideias.
Quando convivemos em determinado grupo, com ideias e parâmetros de valores sociais e humanos bem definidos, temos a tendência de viver e pensar de forma confortável, pois não temos a necessidade de forjar raciocínios que poderiam ser vistos de maneira intolerável.
Ao nos prendermos em padrões que foram anteriormente fixados, temos a tendência a nos fecharmos no que chamamos de "bolhas sociais", uma vez que a construção de um círculo social em que as pessoas falam, ouvem e agem da mesma forma se torna mais agradável e com menor chance de expansão. Sabemos que a zona de conforto em que nos colocamos - ou que nos incluíram - pode ser seletiva e prazerosa, mas sem a possibilidade de grande evolução.
Quando a bolha não estoura, vivemos sob influência - de certa forma, negativa -, daquilo que nos fora determinado, mesmo que de maneira subjetiva ou intrínseca. Então, trazemos à tona o que deveria ser desconstruído ao longo do tempo: a intolerância.
De sobremaneira, aprender a conviver com ideias e opiniões diferentes nos tira daquele círculo vicioso em que, se o discurso não falar exatamente sobre o "abc" que nos foi ensinado, aquelas palavras não terão sentido, sendo assim, rechaçadas pelo ouvinte e desintegrando o locutor da possibilidade de integrar a sociedade como um todo, e não apenas o círculo social que lhe abriu uma lacuna.
Historicamente, o ser humano busca o seu semelhante, entretanto, a ideia de "andar em círculos" não se coaduna com a intensa globalização, uma vez que a ideia central é "aproximar pessoas" e não repelir, motivo pelo qual se faz necessário especular tal ponto a fim de não refutá-lo em detrimento do alcance midiático a que estamos submetidos diariamente.
Se pararmos para pensar, as redes sociais funcionam com algoritmos, ou seja, tudo que pensamos e pesquisamos fica condicionado a permanecer de forma perene, a menos que outro padrão de busca seja intensificado.
Por essa e outras inúmeras razões, a aplicação do sendo crítico se faz necessário para que a manipulação não se sobreponha aos inúmeros preconceitos implantados, sendo um facilitador da fusão das inevitáveis bolhas sociais e, através disso, buscar um denominador comum entre tantas perspectivas.
Ninguém precisa viver acorrentado ao que um dia falaram ser o correto. A expansão somente virá através da tolerância para ouvir e da inaplicabilidade da alienação proposta pelo absolutismo.

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