SÃO GABRIEL WEATHER

João Eichbaum

Maltratados pela fé

Não fosse a saliva do padre nos olhos delas e o sal em suas boquinhas ainda sem dentes, as trezentas mil crianças que entre 1950 e 2020 foram submetidas a vilipêndios sexuais por religiosos, na França, teriam sido poupadas daqueles males.
Graças ao cuspe sacerdotal e ao sal, elas, em sua maioria, se tornaram cristãs sem querer, antes mesmo de se darem conta de que existiam. Presas ao poderoso influxo da cultura cristã, suas famílias cumpriam os ritos e regras impostos pela esmagadora doutrina da Igreja com sede em Roma.
Salvo raras, quiçá raríssimas exceções, foi da mãe que aquelas crianças ouviram, pela primeira vez, a palavra "Deus". Introduzida em seu vocabulário infantil, a palavra foi despertando interrogações, abrindo caminhos. E as respostas que as crianças recebiam nesse tema iam alargando gradativamente seu universo religioso. Mercê da  origem, que foi o carinho e a atenção maternos, tal palavra e respectivos consectários acabaram criando fundas raízes em seus comandos cerebrais.
Mal sabiam as mães, plasmadas pela fé herdada dos antepassados, que estavam tecendo armadilhas para seus filhos. Elas acreditavam numa divindade poderosa, onipotente, onipresente, justa e misericordiosa. Jamais lhes passaria pela cabeça que essa entidade divina caísse no descuido de botar bandidos mascarados de santos a seu serviço. E a essas perversas criaturas as mães confiaram os frutos amados de seus ventres, porque queriam o melhor para eles: uma fé genetriz de virtudes.
Mas as crianças, atraídas pela esperança na vida eterna, acabaram caindo na armadilha da fé. Para elas, a fé, que lhes fora inoculada através da educação familiar, era por si mesma uma excludente da maldade. Mal sabiam que assim, protegidas pelo tênue véu da inocência, eram exatamente a presa desejada por homens que haviam jurado castidade, segundo os ritos da Igreja de Roma.
Não é segredo que alta hierarquia da Igreja Católica, Apóstólica, Romana, ao tomar conhecimento das atrocidades praticadas por padres e outros religiosos, sempre tratou, em primeiro lugar, de esconder os crimes. Para ela, o mais importante é a imagem, a aparência de entidade divina em que se arvora. Tem pago bilionárias indenizações, condicionadas ao silêncio das vítimas. Enquanto isso, remove os clérigos envolvidos, que vão praticar as mesmas atrocidades em outras paróquias ou dioceses.
Na espécie humana, sexo é vida: não existe vida sem sexo, nem sexo sem vida. Mas, essa regra fundamental da natureza é ignorada pela Igreja. Ela continua obstinada em manter um insustentável celibato eclesiástico, causa primeira desses crimes contra inocentes. Os safados sabem que se derem em cima da "mulher do próximo" arriscam a pele, mas a criança, por timidez, silenciará.
Para a Igreja  parece que o homem continua aquele boneco de barro da mitologia judaico-cristã, que recebeu a vida através de um assoprão divino. E com essa visão ela despreza os versículos 18, do capítulo 2 do Gênesis, "não é bom que o homem esteja só", e 28 do capítulo 1: "frutificai e multiplicai-vos"...
 Em suma, nem aquilo que Deus "achou muito bom" (Gen.1:31) a Igreja acha.

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