Ricardo Peró
Retorno amargo
Leio no Estadão que a Prefeitura de São Paulo liberou o retorno das aulas presenciais para as Escolas Municipais a partir do dia 15 de fevereiro. Os colégios deverão reabrir com 35% da capacidade. Já a rede privada será liberada para aulas regulares no dia 1º de fevereiro. Alunos e professores que fazem parte do grupo de risco para a covid-19 não poderão retornar para as atividades presenciais. Os estudantes deverão fazer rodízio para ir às aulas e o retorno presencial será opcional. As escolas da capital paulista estão fechadas desde março de 2020.
Não sou contra a nova medida adotada pela Prefeitura paulista, pelo contrário, pois sabemos que as crianças, quando não imunes à doença, têm apenas sintomas leves da mesma, com raríssimas exceções. Desde o início da pandemia advoguei que o Ensino Fundamental poderia ter seguimento, desde que com os devidos cuidados como os agora adotados. Da mesma forma que fui contra o fechamento do comércio, incluindo aí bares e restaurantes, desde que cumprissem os protocolos de distanciamento e higienização recomendados. Para validar minha posição, exemplificarei o caso dos supermercados e farmácias, que jamais foram fechados mesmo durante a fase mais aguda deste quase um ano de pandemia. Pelo que se sabe agora, estes locais jamais foram focos importantes de contágio, diferentemente das festas clandestinas, "raves", praias lotadas e outras aglomerações desnecessárias. Se alguns bares, restaurantes e lojas fugissem às regras estabelecidas, bastava multá-los e fechá-los. O problema foi que, afoitos em se tornar paladinos da saúde, por covardia ou para confrontar um presidente negacionista e irresponsável, prefeitos e governadores optaram por penalizar a todos, causando uma quebradeira sem precedentes e ferindo gravemente a economia do país. Alguns meios de comunicação, em especial a Rede Globo e suas afilhadinhas, de forma pouco responsável também optaram pelo sensacionalismo, causando pânico e insegurança na população com seu "jornalismo de funerária". A recomendação do "fique em casa e só procure um médico se estiver com falta de ar" - esta sim, apenas política e sem nenhuma comprovação científica - e a campanha contra o tratamento precoce da covid-19, causaram prejuízos financeiros, psicológicos e o pior, a perda da vida de milhares de pessoas. Se o presidente Jair Bolsonaro foi irresponsável em minimizar a pandemia, seus contrapontos foram ainda mais longe ao politizar até mesmo o tratamento precoce da doença.
Mas, no país da curta memória popular, as ações nefastas de seus pregadores, "heróis" como o ex-ministro Mandeta e o governador paulista João Dória (o Chiquinho Scarpa da política nacional), já foram esquecidas.
Agora, sem o menor pudor ou pedido de desculpas, em plena "segunda onda" da covid-19 e diante dos resultados das eleições municipais que terminaram por punir a turma do lookdown, na surdina vão soltando completamente as rédeas da sensatez, permitindo praias lotadas, bares atulhados de frequentadores e fazendo vista grossa para festas clandestinas. O resultado está aí, visível para todos: UTIs e hospitais lotados e número de óbitos em curva ascendente. Mas agora, diante da quebradeira que causaram, das mortes que contribuíram para causar, acovardados, não mais ousam sugerir um novo lookdown. Se limitam a distribuir "bandeirolas" coloridas para Municípios, "fazer recomendações" aos populares ou, em alguns casos, tomarem atitudes dignas da obra de Sérgio Porto, o "Stanislaw Ponte Preta", "O Febeapá", "O Festival de besteiras que assola o país". Os exemplos destes absurdos são muitos, mas para ilustrar usarei um caso que ocorre em Uruguaiana, onde o prefeito mantém a Praça Barão do Rio Branco, situada no centro da cidade, fechada, mas o café que nela funciona, aberto.
Pobre país.
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