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Cátia Liczbinski

A Pandemia que Causamos

"O animal é tão ou mais sábio do que o homem: conhece a medida da sua necessidade, enquanto o homem a ignora". (Demócrito) 

A pandemia da covid-19 foi um fato trágico originado pelo próprio homem: as Pandemias são causadas pela quebra de ciclos do ecossistema pelo homem durante a exploração do meio ambiente.

Segundo cientistas renomados de diferentes países como Austrália, China, Espanha, Itália e Brasil, o coronavírus surgido em dezembro de 2019 tem sua origem em um morcego que habita cavernas na China. Estes morcegos foram explorados pela ação humana, fazendo com que o animal saísse do seu habitat natural e distribuísse o vírus para o pangolim, que é um animal silvestre comercializado em mercados na cidade Wuhan, também na China, e faz parte da lista de tráfico de animais, o que fez que o vírus se espalhasse para o mundo atingindo o organismo humano, que não estava preparado para ele.

É importante destacar que a covid-19, causada pelo coronavírus, é semelhante a outras zoonoses (doenças transmitidas por animais para humanos) que já causaram surtos mundiais como o vírus ebola na África em 2013 e a SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que surgiu na Ásia em 2002, causada por outro tipo de coronavírus.

Desde que o homem começou a explorar o meio ambiente sem controle e sem respeito pela flora e fauna mundial, não houve a percepção da necessidade de estudos sobre os impactos dessa exploração. Doenças como a covid-19 não surgem por acaso, mas são resultado da ação predatória do ambiente, que há anos vem se intensificando, como o desmatamento e a caça que invadem habitats e forçam o contato com animais que podem carregar infecções.

Em média uma nova doença infecciosa surge em humanos a cada quatro meses, sendo 75% delas proveniente de animais, de acordo com o Relatório de 2016 das Fronteiras do PNUMA sobre Questões Emergentes de Preocupação Ambiental. A pandemia da covid-19 nos demonstra que somos parte do meio ambiente, que estamos inseridos em nichos que possuem seus próprios mecanismos de controle, e devemos respeitar as formas de vida e cuidar para que todos possam viver em harmonia com a natureza que nos cerca. Os filósofos da natureza como Demócrito e Tales de Mileto (IV, V a.C) foram os primeiros a perceber que pertencemos à "fisis", ao "cosmos" e assim devemos respeitar a natureza, possuindo um olhar Biocentrista, com a vida como centro do Universo.

Hoje nossa legislação como a lei máxima, a Constituição Federal, mantém um caráter antropocentrista alargado, considerando o homem como principal elemento e centro do Universo.

O isolamento social, primeira medida recomendada pela Organização das Nações Unidas, auxiliou na percepção da importância da saúde e da vida. Muitas precisaram se reinventar, criando novos hábitos como leituras, exercícios em casa, trabalhos manuais, hortas caseiras, cozinhar, aproveitamento de alimentos, tolerância e respeito com os demais. Mas também trouxe em alguns casos o aumento da violência doméstica, dos suicídios e da depressão.

Segundo David Quammen, a pandemia serviu para percebermos que somos parte da natureza e não estamos separados ou acima dela. Somos animais. Compartilhamos as origens e muitos aspectos de nossa anatomia com outros mamíferos, e também podemos compartilhar os mesmos vírus e doenças. Se não fôssemos semelhantes a esses animais, não seríamos afetados por seus vírus. O fato de que esse vírus [o Sars-CoV-2] migrou de um morcego para um pangolim, e depois migrou de um pangolim para os humanos - e agora está afetando a saúde humana - é um lembrete de que também fazemos parte do mundo natural.

Somos responsáveis por nossas ações que desencadeiam a perda da biodiversidade, a mudança climática, a ameaça de pandemias e outros. São fenômenos causados pela ação humana. Não são eventos que simplesmente acontecem - eles são resultado de decisões que tomamos. E o que decidimos fazer foi extrair cada vez mais recursos do meio ambiente: capturamos animais, consumimos carne, extraímos supostas substâncias medicinais dos animais. Extraímos madeira, minerais e combustíveis fósseis. Todos somos responsáveis pelas consequências que estamos sofrendo. Todas as escolhas que fazemos - o que comemos, o que vestimos, tudo que compramos - têm impacto sobre esta situação.

Portanto estamos sofrendo as consequências do que nós causamos. Os cientistas alertam - como já havia ocorrido em relação a essa pandemia há 10 anos - que as futuras pandemias serão causadas pelas mudanças climáticas e pela crescente perda de biodiversidade, adverte o relatório do Fórum Econômico Mundial de maio de 2020, Covid-19. O derretimento do permafrost, nos pólos, causado majoritariamente pelo aquecimento global, está liberando antigos vírus adormecidos no solo congelado há milhares de anos, vírus estes que podem causar surtos de doenças desconhecidas em grande escala no futuro. A queda da biodiversidade e a perda de habitats de vida selvagem também são grandes fatores por trás da disseminação de doenças zoonóticas, transmitidas de animais para humanos, tal como o coronavírus.

Como pertencemos a uma Nação, precisamos coletivamente eleger nossos representantes políticos com sabedoria, analisando os planos de governo e projetos para problemas como a pandemia e a saúde. Os políticos necessitam olhar para a pandemia da covid-19 e as próximas que virão com vigilância, ações preventivas e cooperação mundial.

Individualmente, além da escolha política é urgente repensar as escolhas cotidianas, como quanta carne comemos, a necessidade de viajarmos em aviões e carros (queimando combustíveis fósseis) e quantos filhos decidimos ter, se é que os queremos. São decisões pessoais que têm grande impacto no meio ambiente.

O desastre causado pelo coronavírus obrigou o ser humano a rever seu ambiente. Foi necessária uma tragédia com inúmeros mortos para a percepção que é urgente a mudança de hábitos para a qualidade de vida de todos e das novas gerações.

Portanto, o sofrimento advindo da pandemia é um alerta direto e urgente para a necessidade do ser humano rever sua vida, seus valores e ações. Nunca foi tão importante saber que o "ser" é muito mais relevante que o "ter": a busca da felicidade se traduz hoje na luta pela manutenção da vida. Aqueles que ainda destroem vidas, ou são potenciais transmissores do coronavírus não utilizando máscaras, não respeitando o distanciamento, descumprindo as medidas de cautelas e continuando a agredir o meio ambiente precisam ser punidos. É fundamental acordar e evoluir como ser humano e perceber que vivemos numa sociedade que exige respeito e solidariedade entre todos os seres.

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