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Centro de Material Bélico

Gabrielense é a primeira mulher a se tornar armeira da BM

Aos 28 anos, Caroline Chagas Jobim conquistou um feito que nunca sequer imaginou: tornou-se a primeira mulher a se formar como armeira da Brigada Militar. Desde o fim de maio, está habilitada para montar e desmontar armamentos, durante manutenções ou reparos. A soldado só soube que havia alcançado algo inédito na história da corporação quando o curso já estava concluído e passou a dividir as bancadas com os colegas no Centro de Material Bélico (CMB), em Porto Alegre. Um tanto tímida, ela não contou para os amigos e nem para familiares próximos sobre o curso que estava frequentando numa fabricante de armas em São Leopoldo.

A soldado chegou ao CMB em outubro do ano passado e, em março, passou para a seção de manutenção, mas na área administrativa. Já em maio, o chefe do centro, major Marcelo Nogueira, entrou na sala e anunciou que tinha vagas para o curso de armeiro. Olhou para a soldado e sentenciou: "Jobim, vou te mandar lá para a empresa e fazer o curso. Tem interesse? Tenho", respondeu.

Curiosa com o trabalho dos colegas que já vinha acompanhando, a soldado se empolgou com a ideia. No curso, de 40 horas, a policial, natural daqui de São Gabriel, mas há seis anos na Capital, aprendeu como montar e desmontar os armamentos de diferentes tipos e calibres. O armeiro precisa entender de todos os equipamentos usados pela BM, como pistolas, carabinas, espingardas e fuzis.

"O fuzil não é dos mais difíceis. Algumas pistolas são mais. Têm umas molinhas que é preciso alinhar. Se a pessoa fica nervosa, fica mais difícil. Ainda mais com alguém olhando", brinca a jovem, enquanto demonstra para a reportagem como desmontar e montar um fuzil T4.

Além da manutenção, a equipe do CMB também é responsável por analisar e elaborar pareceres sobre armas que se envolvem em ocorrências. Apesar do tempo de curso, a PM conta que é na prática que vem aprendendo ainda mais. Para isso, recebe o apoio e a assistência dos colegas, com mais experiência. Sempre que tem alguma dúvida, recorre aos outros três armeiros que desempenham a mesma função na seção.

"Eles estão aqui há bastante tempo e sabem muito. Fiz meu curso lá, mas sigo aperfeiçoando com eles. É como trabalhar na rua. Tu vais aprender mesmo na vivência do dia a dia, cada ocorrência, cada pessoa que atende", compara a soldado, que até o ano passado estava no policiamento do 21º Batalhão de Polícia Militar da Capital, no Extremo-Sul.

Além de paciência, habilidade e atenção, o bom armeiro precisa de organização e interesse em estar sempre aprendendo sobre os armamentos. Mesmo os já formados costumam passar por cursos de atualização, já que as tecnologias empregadas também evoluem. Dentro da sala da seção, cada profissional tem uma bancada, onde mantém utensílios e faz o manuseio.

"Aqui recebemos armas de todo o Estado. Vêm armas para manutenção, algum conserto. O que dá para consertar aqui, consertamos. Se não, é enviado para a fábrica, se ainda está na garantia. Toda arma que passa aqui vai voltar para o colega que está na rua. Então é uma responsabilidade enorme", diz a policial.

Agora ciente de que conquistou uma função historicamente masculina na corporação, a soldado conta que sequer havia se dado conta disso quando começou as aulas. Foi somente ao final do curso que um dos colegas alertou que ela era a primeira mulher a concluir a formação. A informação pegou de surpresa inclusive o chefe do CMB.

"Não tínhamos essa dimensão de que ela seria a primeira armeira na história da BM. Ela estava aqui e veio para nós distribuirmos essas vagas. Então, foi algo muito natural, como sempre é. Não temos essa diferença. Precisava de um militar que fizesse o curso, e foi ela. Quando um colega alertou, fui checar a informação. Comecei a questionar se já havia passado alguma mulher na mecânica e realmente não. É a primeira. Então percebi: estamos diante de um fato histórico aqui", recorda o major Nogueira.

Herança de família

Se a função de armeira chegou como algo inesperado na trajetória de Jobim, ela não pode dizer o mesmo sobre a carreira que escolheu. Em São Gabriel, cresceu vendo o pai sair de casa diariamente para trabalhar na BM do município. Clesio Onir Munhoz Jobim, que atualmente tem 54 anos e ocupa a função de 2º sargento, foi a inspiração da filha para decidir que também seria policial militar.

Assim que concluiu o Ensino Médio, Jobim prestou o primeiro concurso, mas não chegou a ser aprovada. Passou dois anos estudando, determinada a repetir a seleção. Obstinada, em 2014 foi aprovada e ingressou na BM em 2016.

O pai chegou a sonhar com a possibilidade de trabalhar com a filha em São Gabriel, mas a jovem acabou seguindo para Porto Alegre. Sabendo dessa vontade dele, em agosto de 2020, às vésperas do Dia dos Pais, Jobim decidiu promover uma surpresa. Pediu autorização para ir até a Fronteira Oeste e tirar um dia de serviço ao lado do pai. O momento foi registrado pela BM e também ganhou repercussão.

Acanhada, a jovem não esperava receber tantos holofotes com o que pretendia que fosse uma homenagem singela. Quase dois anos depois, o pai foi pego de surpresa mais uma vez, ao descobrir que a filha havia se tornado a primeira armeira da corporação.

"Ele ficou muito orgulhoso. Me mandou mensagem na hora, dando os parabéns, porque tinha recebido nos grupos de WhatsApp. Me sinto lisonjeada. Muitas vagas às vezes as pessoas dizem: "Isso é um serviço masculino". Mas não é. Se tu quiseres, tu consegues. É uma questão de incentivar. Hoje, estamos em todas as áreas. A BM mesmo é uma instituição que tem muitas mulheres, em diferentes cargos. É um privilégio poder ser a primeira aqui, mas que venham mais", projeta.

Fonte: GauchaZH e BM

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