SÃO GABRIEL WEATHER

João Eichbaum

O mau espetáculo do parlamento

O excelente J.R. Guzzo diz em sua crônica, intitulada A Política da Ciência: "todo mundo vê: semianalfabetos que não saberiam dizer que horas são, mas têm uma carteirinha de senador, interrogando médicos e outras pessoas de bem como se fossem um soldado da PM diante de algum vagabundo numa delegacia de polícia. É um "ambiente tóxico", disse o presidente do Conselho Federal de Medicina. E é isso, na sua forma mais grosseira, o "cientificamente correto".
Assim como Guzzo, não só as notícias da imprensa isenta, como também as manifestações das redes sociais, referem o espetáculo da tal da CPI do Covid  como encenação de péssimo gosto. Mas, nem precisaria. Pelos membros da comissão de senadores que a compõem, boa coisa não se poderia esperar mesmo.
Uma Comissão Parlamentar de Inquérito, por si só, já é uma atividade imprestável. De inquérito, de "modus operandi" em averiguação que busque a verdade, ela nada tem. Tem mais de espetáculo circense de baixa qualidade, do que de serviço público útil.
Todo o averiguador deve possuir conhecimentos mínimos de investigação. Investigação não é para amadores. Investigação séria não se presta como espetáculo, ainda que seja da melhor qualidade. Ao lado da técnica, sempre deve estar a isenção, o espírito equânime, o respeito à hierarquia de valores. E, sobretudo, o respeito às pessoas.
Nada disso se observa, não só nessa, como em qualquer outra comissão parlamentar de inquérito de que se tem notícia, na história do parlamento brasileiro. Acobertados pela imunidade parlamentar, o mais abominável privilégio que essa coisa chamada Constituição lhes assegura, os figurantes não têm um mínimo de educação, e tratam as pessoas que lá comparecem como se fossem coisas, entes sem valor. Respeito humano é uma coisa que, para muitos deles, não existe. Os direitos fundamentais, escritos na mesma Constituição, desaparecem naquele cenário de deboche, desdém, comportamentos indignos de seres humanos.
Há pessoas que lá  são prejulgadas e tratadas como seres inferiores, por gente que, como diz Guzzo, "não saberia dizer que horas são", ou que não tem habilidade sequer para distinguir entre amigos e inimigos. Inflexões desafáveis, perguntas abertamente tencionadas para respostas que o inquisidor - sim, inquisidor - quer ouvir, é o tom que mais se salienta.
A embriaguez do poder, que tem uma enorme eficácia em personalidades de baixo caráter, dominadas por surtos psicóticos, ou servis à exacerbação do ego, se salienta, mostra toda sua força em ambientes nos quais a imbecilidade não pede licença para entrar.
Mas, o desvio de bons modos, a importância que o ego se dá a si próprio, não são privilégio dos componentes da comissão parlamentar. Há também depoentes que não têm comportamentos mais cândidos: lá se apresentam como coadjuvantes da pantomima, a serviço de interesses e ideologias, pouco se importando com a obtusidade e a vilania que pontificam em seus papéis.
Assim é a prática da democracia no Brasil: entrega-se o poder político para alguns que, a serviço de seus próprios interesses, usam o povo como massa de manobra.

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