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Amamentação em todas as situações é tema de seminários na Semana Mundial do Aleitamento

Realizados em conjunto, o 16º Seminário Estadual da Semana Mundial da Amamentação e o 11º Seminário Estadual da Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil ocorreram na quinta-feira (08/08), com extensa programação ao longo do dia. De forma online, o evento foi transmitido pelo canal do YouTube do Conselho Regional de Nutrição-2, parceiro da Secretaria Estadual da Saúde (SES) na realização, e trouxe como tema a amamentação em todas as situações.

O evento também contou com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre. Presente na abertura, a secretária estadual da Saúde adjunta Ana Costa salientou que a amamentação é um assunto que salva vidas. “Recente tragédia no Rio Grande do Sul mostrou o quão importante é fortalecer nosso papel de apoio em situações adversas. É uma pauta que alegra e desafia, que evidencia relações de afeto e da qual devemos falar com naturalidade”, argumentou.

A enfermeira Márcia Machado abriu o evento apresentando dados sobre pessoas com deficiência e a necessidade de apoio às famílias atípicas na continuidade da amamentação. “É fundamental humanizar mais a assistência, ofertar plano de parto, realização de visitas domiciliares e capacitar os profissionais nas unidades de saúde para que façam o uso de tecnologias assistivas, como providenciar materiais em braile, por exemplo”, pontuou. Ela também explicou que existem plataformas virtuais com intérpretes de Libras e possibilidades de facilitar a comunicação na hora do atendimento de diversas formas. “Já existem cursos de Libras para profissionais de saúde, e a demanda por pessoas preparadas para atender mães surdas vem crescendo”, exemplificou a enfermeira.

Múltiplas possibilidades de amamentação

Trazendo a amamentação sob a perspectiva da população LGBTQIA+, a pediatra Ana Carolina Salis defendeu a necessidade de letramento e conscientização dos profissionais ao abordarem a gestação e o processo de amamentação, dando espaço para que sejam manifestados os desejos, expectativas e dúvidas sem julgamentos. “Não se pode pressupor o gênero baseado na aparência. Os profissionais de saúde devem saber a diferença entre sexo biológico, identidade de gênero e orientação sexual e devem perguntar à pessoa gestante por qual o pronome ela deseja ser tratada, assim como devem compreender o papel parental, as parcerias e redes de apoio que estão envolvidas no processo de gestar e de alimentar”. A médica também salientou que abordar a amamentação em famílias LGBTQIA+ inclui ofertar possibilidades de indução à lactação e co-lactação. “Homens transgênero amamentam, se assim desejarem. De igual forma, já existem relatos científicos de uma mulher transgênero que conseguiu amamentar seu bebê após induzir a lactação. Isso mostra as inúmeras formas possíveis de amamentação e como famílias diversas devem ser tratadas com respeito e competência”.  

Na mesma linha, o antropólogo Dan Kaio Lemos falou sobre os desafios da amamentação para pessoas transmasculinas e como esses corpos são vistos nos dispositivos de saúde. “Essas identidades invisíveis favorecem o ‘assujeitamento’, pois são pessoas que vivem diversas vulnerabilidades e sobre as quais faltam dados nos sistemas de saúde. É uma população invisível da política pública”. Lemos também argumentou que a cultura ocidental considera a amamentação única e exclusiva de mulheres cis, o que é excludente. “Corpos com glândulas mamárias podem amamentar e o planejamento durante a gestação é importante justamente para saber quais os desejos de amamentar e induzir a lactação com os cuidados e acessos devidos. O sistema de saúde ainda não está preparado, mas está avançando”, concluiu.

Aleitamento materno no sistema prisional

Psicóloga e consultora no programa Primeira Infância Melhor (PIM), Alneura Provenzi apresentou dados do sistema prisional gaúcho, que mostra que 80% das mulheres privadas de liberdade são mães. Atualmente, 29 gestantes e uma puérpera são acompanhadas com atenção prioritária, uma vez que o perfil dessas mulheres é ainda mais vulnerável no cárcere. A amamentação está entre os direitos do recém-nascido e é dever do estado fortalecer o vínculo mãe-bebê, incentivando o aleitamento materno.  

A atuação do PIM na Unidade Materno Infantil da Penitenciária Feminina Madre Pelletier é voltada para a sensibilização, formação de gestores, promoção de atividades lúdicas e educativas para as presas. “São mulheres que têm a trajetória permeada por violências, abusos e negligências”, disse ao explicar que isso se reflete nas relações com o bebê. As presas são orientadas por equipe multidisciplinar nas unidades de saúde de referência e devem receber orientações sobre cuidados de saúde, aleitamento materno e amamentação assistida desde as consultas de pré-natal. “Muitas delas não conseguem amamentar exclusivamente até os seis meses, por fatores emocionais e interações com dependência química. Nosso papel é superar e amenizar os danos causados pelos processos de vulnerabilidades e apoiar a inserção da criança na família extensa após esse período”, explicou Alneura.

Ainda no recorte da população privada de liberdade, a defensora pública Mariana Py Muniz corroborou a estatística de aumento do encarceramento feminino e sobre a necessidade de assegurar direitos no sistema de punição estatal. Mariana apresentou o projeto pioneiro da Defensoria Pública do Paraná que propõe a Economia do Cuidado para remição da pena, compreendendo o papel de gênero exercido pelas mulheres também dentro do sistema prisional. “A amamentação é um direito, mas é também um trabalho invisível, de suma importância, que requer demais das mães. Devemos refletir, compreender e intervir na busca por uma sociedade mais justa”, pontuou a defensora pública.

Tecnologias leves

A pediatra e neonatologista Sônia Salviano abordou o manejo da amamentação com tecnologias leves e reforçou a urgência da educação em saúde e das trocas entre profissionais sobre o tema. “Cada caso é um caso, independentemente do número de filhos que aquela mulher já teve. Deve ser respeitada a hora de ouro e o contato pele a pele e devemos lembrar sempre que a protagonista é a mãe”, justificou ao lembrar que atualmente anúncios de marketing desencorajam a amamentação.

Durante a tarde, a nutricionista Raquel Bicudo apresentou as alergias alimentares e os desafios para o uso de fórmulas infantis. “A possibilidade de alergia alimentar não é impeditiva para que a criança siga mamando no peito. O diagnóstico correto deve ser investigado, mas é preciso ter em mente que o aleitamento materno e a alimentação saudável são a base do tratamento da alergia alimentar”. A nutricionista também explicou que quando necessário, as fórmulas infantis especiais devem ser introduzidas para suprir demandas nutricionais.  

O médico Hélio Miguel Lopes Simão, do Departamento de Assistência Farmacêutica da SES, descreveu como funciona o fluxo de dispensação de fórmulas pelo estado e destacou que o Rio Grande do Sul é um dos nove estados com programas administrativos estaduais que fazem essa entrega gratuitamente. A solicitação pode ser realizada via farmácia digital, no site da Secretaria Estadual da Saúde, mediante documentação exigida. O estado realiza doação de fórmulas especiais extensamente hidrolisadas, de aminoácidos livres e de soja.


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