SÃO GABRIEL WEATHER

Cátia Liczbinski

As mudanças climáticas e o sentimento de Solastalgia

O principal momento das férias no Brasil é realizado no período do verão, como ocorreu nesse ano de 2024. Os lugares mais procurados são os relacionados com a natureza, como praias, campos, montanhas, buscando-se efetivamente descanso e sair da rotina das cidades. 

Neste momento, com famílias em locais sujeitos à mudanças climáticas, as alterações de paisagens no meio natural são perceptíveis. O estudo dessas alterações e os sentimentos humanos em relação a isso são uma preocupação do filósofo Glenn Albrecht, que denominou de Solastalgia o sentimento coletivo de melancolia, de saudade do meio ambiente preservado. 

Solastalgia é um termo que já é usado por profissionais da saúde como médicos e psicólogos na análise dos impactos que o caos climático tem na saúde mental coletiva. Segundo o filósofo, a Solastalgia se refere a angústia experimentada quando o lugar que a pessoa conhece e ama está sendo degradado ou alterado de maneira extrema. Muitas pessoas e seus filhos passaram a vida toda na mesma praia ou mesmo sítio, e a cada ano percebem as mudanças daquele ambiente, como a diminuição da extensão da vegetação e da areia por exemplo. Essa percepção traz para a pessoa um sentimento presente de tristeza. 

Outro termo que surge em relação ao tema é eco-ansiedade ou ansiedade climática, que atinge muitas pessoas em todo o mundo, e significa o medo crônico da catástrofe ambiental em razão do aumento dos eventos extremos do clima, pensando-se no futuro.  

O próprio Google informa que nos últimos 5 anos, os brasileiros buscaram 73 vezes mais por "ansiedade climática" no Google, em razão de que em 2023, quando o assunto foi mais pesquisado, o Brasil passou por mais de 1,1 mil desastres relacionados a eventos climáticos extremos, desde enchentes e deslizamentos de terra. De acordo com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, 2023 foi o ano recorde dessas ocorrências, atingindo 55% da população nacional. 

A Solastalgia é um sentimento de perda, de algo que foi muito especial, bom, preservado e com as mudanças climáticas se alterou, se destruiu, desapareceu. Está diretamente relacionado à sensação de pertencimento e identidade, afetando todos, mas principalmente os mais vulneráveis como indígenas, quilombolas, pessoas que vivem nas periferias e favelas que não tem água e saneamento básico. Situações como o desastre de Brumadinho, as enchentes em Santa Catarina, as áreas desmatadas da Amazônia para dar lugar aos garimpos, são todas resultado de ações humanas durante os séculos pós revolução industrial. 

Enfatiza-se que o aquecimento global e consequentemente as mudanças climáticas são oriundas principalmente das atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis para geração de energia, atividades industriais e transportes, conversão do uso do solo, agropecuária, descarte de resíduos sólidos e desmatamento. Todas estas atividades emitem grande quantidade de CO² e de gases formadores do efeito estufa. 

Neste sentido, a Solastalgia e a eco-ansiedade podem ser compreendidos como um sentimento coletivo que ocorre com grupos que vêm seus territórios atingidos por ações que danificam e alteram o ambiente, sejam de atividades humanas ou climáticas. São necessárias ações concretas que exigem dos governos e corporações, estratégias que venham reduzir os danos ambientais e possam inclusive ser preservados das catástrofes. É preciso cuidar do que ainda resta do ambiente.

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